domingo, 26 de abril de 2009

Rituais e manias...evoluímos tanto assim?

Eu abandonei esse blog em fevereiro. Eu jurava que ninguém lia, já que quase ninguém postava. Mas essas últimas semanas o pessoal anda até pedindo que eu psotasse algo novo. Gente que eu nem conhecia comentou que gostaram de ler oq eu escrevo aqui...mas lêem e não comentam. Eu achei estranho, mas...se agrada, tudo bem, eu escrevo alguma coisa.

Como o meu intuito nunca foi de falar da minha vida pessoal aqui, meus assuntos ficam meio restritos. E não posso ser muito específico, afinal, nem conheço os meus leitores e não sei seus "gostos e desgostos". Então, esse blog fica classificado como genérico: fórmula básica, mais barato e nem precisa de receita.
O problema desse meu blog sempre foi o quesito assunto. Eu não falo da minha vida particular. Acho ridiculo alguém se expôr tanto assim na internet...além de perigoso, até. Só que eu sempre achei que meus assuntos não interessavam ao pessoal que vinha aqui ler. Essas últimas semanas me disseram que eu estava errado nisso: as pessoas liam e gostavam, só não comentavam.
Bueno, daí complica. Eu não tinha como saber que isso aqui era lido e apreciado. Mas estou grato ao pessoal que se manifestou.

Bem, umas duas semanas atrás eu comprei um livro que eu li no início de 2006. Se chama "As máscaras de Deus: mitologia primitiva" do Joseph Campbell, o maior escritor do assunto que já existiu. Quem me conhece sabe que adoro essas coisas de mitologias, historia e civilizações antigas, contos fantásticos e tal. Esse cara mostra a raiz desses assuntos, e é fantástico ver a linha de evolução da mente humana ao longo de...hmm...quase 500 mil anos.

Algo muito interesse de ver foi um dos elementos que estiveram sempre presentes na nossa cultura, desde que o ser humano se encorajou a andar sobre apenas as patas traseiras: o ritual. Quando eu falo ritual, algumas pessoas pensam em um pentagrama pintado no chão, com velas negras e roxas iluminando um quarto escuro e uma menina estilo Amy Lee ajoelhada no chão, ouvindo uma bandinha podre gemer alguns versos enquanto ela choraminga alguma bobagem.
Não, filhotes, não é isso. Também não são cabeludos escutando black metal sacrificando hammsters da irmãzinha ou o gato da vizinha em honra ao maldito nome do vocalista daquela banda que eles tanto amam.
Rituais são atos sociais. E podes crer, tu também os pratica.
"Quem...eu?! Eu não!!"
Sim. Ah, tu sim!
Do mesmo jeito que as pessoas podem não perceber que o Direito está em muitos atos do seu cotidiano (sim, eu sou formado em Direito, então uso isso como exemplo), podem não perceber como suas vidas são repletas de atos ritualísticos.
E eu falo isso do modo mais amplo possível. Do mesmo modo que o simples levantar do dedo na parada de ônibus para sinalizar teu intuito de embarcar no mesmo caracteriza uma aceitação contratual tácita de prestação de serviço (tu nem sabia disso, né?), muitas coisas que tu faz teu seu próprio rito.
E por ritual, não falo apenas da hora de ir na igreja, segurar a mão do desconhecido do lado e orar a deus. Nem de todo o procedimento do casamento ou funeral. Nem de qualquer evento de quaisquer templos de quaisquer religiões que possam existir. Esses são meros exemplos de alguns dos ritos que praticamos. Mas muitas outras coisas envolvem esses ritos.
Então, que outros exemplos de nossas ações são consideradas rituais?
Bem, posso mencionar algumas das nossas “manias” preferidas (logo logo vão entender o pq de “manias”): a paquera e os esportes.
Paquera, aquele ato de “azaração” na festa, na balada ou onde for. Começa com a dança (que foi um dos primeiros atos ritualísticos da história: preparação para a caçada, acasalamento, funerais, agradecimento aos deuses), então a troca de olhares, os movimentos tornam-se mais decididos, aa proximação...o corpo no corpo, mão no rosto e no corpo...e por fim um beijo. Perceberam que nem foram trocadas palavras? Quem vai na balada ou festa sabe disso. Raras vezes é necessário uma conversação. Mas porque isso? Algumas pessoas chamam de libertinagem, mas existe outra verdade por trás. Esse ritual de aproximação e de conquista é um jeito muito elaborado que dispensa palavras. Os movimentos e os olhares demonstram as intenções, aprovação ou rejeição de forma explícita e compreensível. Todo os “participantes” do ritual entendem a linguagem corporal e a usam nesse diálogo silencioso. As roupas que as “gatinhas” usam (justas,decotadas, provocantes) e que os “manos” usam (mais social ou jovial) são indumentárias comparáveis às utilizadas alguns mil anos atrás pelos praticantes de rituais religiosos. Roupagens especiais eram utilizadas sobre o corpo para que os deuses e demais participantes e expectadores do ritual pudessem encorporar melhor o rito e o compreendessem. Com essa roupagem, shaman, gatinhas e manos encorporam algo maior do que si mesmos, e adotam uma linguagem ritual e explícita, porém silenciosa.
Então, caros leitores, caros gatinhas e manos....saibam agora que o que vocês fazem na festa não é tão original, já que faz parte da reelaboração de rituais configuradas há quase 30 mil anos. Qual a diferença? As gatinhas estão (graças a deus!) muito mais gatinhase bem menos peludas que suas ancestrais primitivas. Já nós homens....bem, ao menos não cheiramos tão mal quanto nossos ancestrais das cavernas.

E os esportes? Bem, os esportes, antigamente, não eram realizados por mera diversão. A “batalha” esportiva era uma demonstração aos deuses das habilidades, força e determinaçãos dos competidores envolvidos. Os gritos dos “torcedores” eram louvores e gritos aos deuses que também assistiam. É sabido também que os vencedores de tais partidas eram sacrificados como oferenda aos deuses, como se dissessem: “aqui lhes enviamos nossos melhores e mais bravos competidores como oferenda do que possuimos de melhor, em troca de favores e proteção para toda a tribo/aldeia”. Hoje em dia não sacrificamos Ronaldinhos nem Michael Jordans. Ao invés disso, preenchemos suas contas bancárias com milhões, colecionamos fotos, entrevistas, videos, camisetas, tênis e outros produtos a eles relacionamos. Uma incorporação da persona referida, e ofertas de oferendas. È visivel o paralelo, não?
Além disso, sabemos que muitos esportistas, artistas e músicos possuem seus próprios ritos antes, durante ou depois de seus jogos ou shows. Michael Jordan admitiu que usava seu calção de time da faculdade por debaixo do shorts do Chicago Bulls. Muitos jogadores de futebol do Brasil se abraçam coletivamente e rezão quando alcançam uma vitória. Muitos músicos dão as mãos e se ajoelham perante ao público em agradecimento à energia que lhes demonstram durante um show.

Bem, se eu fosse dar mais exemplos que me vêem à cabeça, seria mais fácil escrever um livro.

Falei, lá em cima, sobre “manias”. Mas porque “manias”? Ora, manias são alguns “tiques”, ações que precisamos repetir “religiosamente” antes de fazermos certas coisas. Fazer sinal da cruz quando passamos em frente à uma igreja é um exemplo bastante comum e conhecido. Mas cada pessoa tem a sua mania. Cada pessoa precisa, em certas ocasiões, preparar-se de algum modo antes de fazer certas coisas. Preparação psicológica, espiritual ou ação pra afastar a má sorte? Manias são tudo isso. São micro rituais pessoais de realização rápida e simples. O mero “fazer religiosamente” já aponta tudo. Mesmo não sendo direcionado a um deus específico, ou ao destino ou à boa sorte. São oferendas ou ações que realmente acreditamos precisar realizar em momento prévio a certos eventos. Isso nos dá força, auto-estima e paz de espírito. Bem, e esses não são exatamente todos os objetivos visualizados nos rituais milenares?
Então, será que estamos assim tão longe do neandertal, ou até mesmo seus ancestrais? Evoluímos, pensamos, descobrimos e criamos...mas (e dou graças aqui, novamente!) jamais deixamos de ser criativos, fantasiosos, imaginativos e sonhadores.
Seria interessante que os que comentassem aqui nesse post relatassem algumas de suas manias proóprias, ou manias de conhecidos. Pode ser engraçado, divertido e elucidativo.
OBS: Aos que realmente não conseguem compreender ou realizar os rituais da balada, lembrem-se que seus ancestrais igualmente timidos ou inaptos tinham uma ótima solução: a clava!

Abraço!

5 comentários:

  1. E aí...td bem?
    Muito obrigado pela sua visita....

    E quanto ao blog, continue postando sim....sempre terá alguem lendo ele...
    Abraçoss

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  2. Aaah, eu comecei lendo, mtu entusiasmada, por você ter voltado >.<
    mas chegou na parte dos rituais, fail >.<

    sorry :/
    mas poste denovo, quero ver o próximo ;)

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  3. Por isso eu raramente posto. Se não é coisinha besta, engraçadinha, modinha ou trocinho atual da tv ou sei-la-eu-o-que, ninguém liga. O blog surgiu como uma ferramenta util pra divulgar idéias e coisas interessantes...mas claro que os brasileiros tinham que vir e banalizar isso tb.

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  4. Tu nem sabia que eu também passava por aqui né?
    Tu escreve muito bem!!!! Adoro teus textos.

    Beijos

    Viviane

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  5. Adorei a parte sobre os esportes, parece a explicação que um amigo me deu tentando me fazer entender o futebol uma vez... Não funcionou, mas foi uma boa tentativa.

    =*

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